Para quem apenas já só consegue ler 140 caracteres:

Quando o mais reconhecido gestor português diz ao Primeiro-Ministro que se tivesse uma sugestão para a agenda digital, esta seria o governo apostar em open-source e estabelecer objectivos concretos nesse sentido, talvez valha a pena ler o resto deste texto.

 

 

Inspire fundo e leia:

The Next Global Problem: Portugal

 

Mesmo com os devidos descontos, se somarmos toda a informação que temos vindo a receber sabemos que: a) o custo financeiro da nossa dívida é insuportável b) que o nosso défice é muito superior ao razoável e c) que o crescimento do PIB é e será nos próximos anos inferior à média europeia.

 

Esta é, sem qualquer sombra de dúvida, a crise da nossa geração. E o nosso valor, como geração, está em a conseguirmos ultrapassar. Tal como a geração anterior foi chamada a fazer uma mudança política com profundo significado (democracia, abertura ao estrangeiro, entrada na CEE) nós temos este desafio.

A forma como a história será escrita (ainda) depende de nós.

 

Numa sociedade do conhecimento e da informação, o software é a peça fundamental de toda a economia.

Existem dois modelos de desenvolvimento de software: fechado / proprietário e open source  (código aberto).

 

O que representa o software proprietário

O software proprietário assenta num modelo em que uma empresa desenvolve o software e cobra uma licença pela sua utilização. Na prática, é um modelo "winner takes all" e as grandes software houses são americanas. Apesar de haver um eco-sistema de serviços em cada país, as receitas de licenciamento são transferidas para o país de origem do desenvolvimento pesando na balança comercial e não contribuindo - de todo - para o PIB do nosso país.

Enquanto algumas empresas multinacionais, como a Oracle e a IBM, têm ofertas assentes nos dois modelos, existem outros casos apenas assente no modelo fechado.

O software proprietário não é satânico e as pessoas que nele participam fazem-no em muitos casos de forma competente e honesta. Mas nada é mais forte que uma ideia cujo tempo chegou.

 

O papel do Open Source na saída da crise

O Open Source, por  si, não é a panaceia para todos os males.

Mas pelo que representa e pela impacto que o software tem na economia torna-o um aspecto central da agenda política.

A Microsoft é um exemplo de uma empresa em que todo o negócio é assente no modelo de licenciamento e, de longe, o que maiores custos representa para a nossa economia. Para efeitos de vincar as diferenças entre os modelos, vou o usar como exemplo. E, por falar nisso, sabia que:

  • O licenciamento Microsoft na AP representa 200 a 230 euros por funcionário, por desktop. Se tomarmos em conta o segmento servidor, podemos adicionar em média mais 100 euros por funcionário, perfazendo 330 euros / ano. Ou seja, existe um custo de 27,5 euros mensais por funcionário só para licenciamento.

 

 

E, quando o mais reconhecido gestor português fala....

No último fim-de-semana, o primeiro-ministro convidou  gestores de 40 empresas portuguesas ligadas às TIC para ouvir as suas sugestões para melhorar a agenda digital e fazer crescer as exportações portuguesas.

Cada um teve oportunidade de intervir.

Várias intervenções chamaram a atenção para o Open Source como factor prioritário.

Uma, sem dúvida a mais importante e aguardada, foi a do CEO de uma empresa portuguesa com 70 milhões de clientes, presença no PSI20 e NYSE, e com uma forte presença internacional.

A mensagem foi clara "Das várias sugestões, se pudesse apenas dar uma única, ela seria o governo apostar no Open Source. Estabelecendo objectivos concretos e uma estratégia".

Que mais vozes serão precisas?

 

Porque, neste caso, o mercado não é suficiente (e mesmo o pensamento Liberal o reconhece)

De um lado temos uma boa oferta tecnológica assente em projectos não-formais e num grande número de PMEs. Um ecosistema óptimo em soluções tecnológicos mas pobre em marketing e lóbi.

Do outro lado temos uma empresa muito grande, forte em lóbi e em marketing. A saída de elementos do governo e da Assembleia da Republica para essa empresa é constante e no sentido inverso também.Por muito honestos que sejam esses elementos, existe uma proximidade do poder que influencia a decisão. É inevitável.

Sejamos claros. O software Open Source está a crescer a um ritmo inagualável. A sua implantação "bottom-up" é inevitável. Porém, para atingir a posição de equilíbrio natural no mercado serão precisos 10 a 15 anos pelas limitações acima referidas. E, parece-me, não temos esse tempo.

 

 

E, por fim, concretizando....

Open Source é Linux. Open Source é Open Office. Open Source são tecnologias web "abertas" como frameworks PHP / RUBY. Open Source é desenvolvimento aplicacional em Java.

Ser Open é ainda apostar em Open Standards. Apostas em Interoperabilidade. Apostar em expor dados públicos em Webservices e DataGov.

 

A mudança governamental passa por iniciativas como:

  1. Ministério das Finanças: identificar bem os custos e dar-lhes visibilidade. Se se souber quanto se gasta em licenciamento de desktop existirá muito mais sensibilidade para a mudança.
    Perguntar a quem se opõe:
    "Gosta mais da aplicação anterior, a que tinha uns ícones mais bonitos? E está disposto a pagar 27 euros do seu salário por mês para a ter?"

  2. Ministério das Finanças / ANCP: justificar as aquisições de software. Não é possível comprar o sistema operativo OEM e instalar Open Office ? Analisaram os vários cenários financeiros de aquisição?

  3. Presidência do Conselho de Ministros: definição de standards abertos e vinculativos para a troca de documentos (OpenDocument / OASIS). Obrigatoriedade do procurement de software na AP ser multi-plataforma e com garantias de interoperabilidade.

  4. Assembleia da República: fazer uma comissão de inquérito a si própria. A AR aprovou a iniciativa "Software Livre no Parlamento" e passados 2 anos nada do que foi por ela aprovado está em funcionamento, continuando a a ter sistemas internos que apenas funcionam numa tecnologia.

  5. Ministério da Ciência e do Ensino Superior: a ciência não é para ficar nas universidades é para servir a sociedade. A Univ. de Évora tem um laboratório de Interoperabilidade. O ISCTE tem um mestrado em Open Source. É preciso abrir à sociedade e criar condições para que estas competências sejam totalmente utilizadas.

  6. Ministério da Economia:  os apoios QREN não estão adaptados para projectos basados em open source. Há que adaptar.

  7. Transversal aos vários ministérios: estabelecimento de grupos técnicos de apoio às migrações. Consciencialização que existe um custo de mudança, mas que não mudar custa muito mais.

 

O governo têm tido políticas públicas bem definidas, dotadas de recursos e estrategicamente posicionadas. As apostas inatacáveis nas energias renováveis (eólicas, carro electrico,...) , nas TIC (e-escolinhas, e-escolas,...) e no ensino profissional são bons exemplos.

Nós somos capazes.

publicado por Tintim às 10:18editado por Fábio Teixeira em 11/10/2010 às 17:59