Terminou dia 21 de Setembro a conferência anual do OpenOffice que este ano se realizou em Barcelona e na qual eu (Rui Fernandes) e o Paulo Vilela (do marketing da Sun) estivemos presentes. este evento anual teve como principal objectivo não só a divulgação do projecto OpenOffice.org como também mostrar os mais recentes desenvolvimentos nesta suite de escritório, nomeadamente com a nova versão 2.3.
Nos pontos seguintes irei tentar sintetizar o que de mais importante foi referido nas mais de 70 sessões que ocorreram durante estes três dias em Barcelona. Infelizmente muitas destas sessões ocorreram paralelamente o que invalidou a nossa presença em algumas delas.
OpenOffice.org em números
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Mais de 100 milhões de downloads
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Mais de 100 linguagens disponíveis
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Mais de 350 entidades que fornecem suporte profissional e consultadoria
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Milhares de pessoas em todo o mundo contribuem para o OpenOffice.org
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Na versão 2.3 o carregamento de folhas de cálculo sofreu melhorias na ordem dos 12857%
O que há de novo na versão 2.3 do OpenOffice.org
Este era um dos temas obrigatórios na conferência, e apesar de muitos dos melhoramentos efectuados serem ao nível da optimização do código fonte, aqui ficam algumas das novas funcionalidades visíveis a “olho nu”
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Writer
- Uma das funcionalidades com maior impacto é o facto de ser possível exportar um documento de texto para uma página do (media)wiki
- Caso um parágrafo se encontre numa língua diferente da documento ele é reconhecido ao correr o corrector ortográfico
- Mail merge
- Melhoramentos nas smart tags
- Os links abrem agora com ctrl + clique e é possível editar os links de uma forma mais lógica.
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Calc
- Adicionados novos tipos de gráficos
- A aparência visual dos gráficos foi melhorada com uma nova palete de cores
- Melhoramentos no DataPilot
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Base
- Está disponível uma extensão para a criação de relatórios personalizados
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Draw
- É agora possível exportar imagens .png para html
Migrações para OpenOffice
Apesar das inúmeras sessões relativas às experiências de migrações relatadas por entidades e administração pública (Japão, Catalunha, Dinamarca, entre outras) de alguns países que estiveram presentes na conferência, a sessão “Why are you doing this to me” foi das que mais despertou atenção. O orador relatou os problemas mais comuns que surgem numa migração e apresentou sugestões de como ultrapassá-las. Assim, a receita para uma boa migração:
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Elaborar um plano de migração realista – definir datas, recursos financeiros, número de utilizadores, número de instalações, etc...
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Identificar antecipadamente eventuais problemas que possam surgir antes, durante e após a migração -> Elaborar um plano de contingência
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Elaborar um plano de comunicação (evitar situações do tipo “Amanhã a sua máquina será migrada e já só trabalhará com OpenOffice.org”). É necessário fazer transparecer aos utilizadores que a migração ocorre de uma forma natural, prevista e calculada e tendo em conta que os utilizadores necessitam de tempo para:
Exemplo: Um dos modelos não foi convertido para o formato OpenOffice.org -> Garantir que pelo menos uma máquina ainda possui o MS Office.
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esclarecerem as suas dúvidas
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organizarem os seus documentos
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informar os técnicos de situações pontuais como documento complexos (com scripts complexos ou formulários Access por exemplo)
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Converter todos os modelos de documentos para o formato do OpenOffice.org
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Garantir que no final da formação dos utilizadores o OpenOffice.org já se encontra instalado nas máquinas e sem o MS Office instalado.
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Garantir a presença de um técnico sempre que o utilizador o solicitar e mostrar calma e controlo perante um problema de resolução mais difícil.
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Criar novas funcionalidades caso seja necessário – Neste caso, o orador teve necessidade de criar uma toolbar com os ícones Enviar como .doc e Pré-visualizar como .doc.
O orador referiu ainda as migrações de OpenOffice.org que coincidem com a migração de Sistema Operativo (geralmente para Linux). Duas ideias a reter:
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A nível de Hardware – Qualquer entidade deverá apenas adquirir hardware que seja bem suportado no maior número de SO's existentes no mercado (Windows, Linux e Mac) por forma a garantir a sustentabilidade da migração. Qualquer hardware que seja suportado actualmente também o será no futuro.
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A nível de Software - Quer haja migração ou não do sistema operativo, o desenvolvimento/adopção de aplicações deverá passar pela utilização de linguagens/software aberto, ou seja, mesmo que uma entidade hoje não pense em migrar os SO's, ao adoptar esta política não fecha as portas a quem o queira fazer no futuro tornando mais fácil e transparente o processo de migração. Esta política já é adoptada na Europa por algumas entidades e administração Pública de alguns países.
O Exemplo Chinês – RedFlag 2000
Num país que conta já com mais de 80 milhões de computadores e com um crescimento anual que ronda os 20 milhões de PC's, o caso chinês acabou por ser uma das principais atracções desta conferência. A suite RedFlag 2000 é o exemplo vivo de que localização não é apenas tradução e acusa o MS Office de desrespeitar os valores e a cultura chinesa na suite que disponibiliza. Num país em que muitos dos seus habitantes nunca ouviram falar do MS Office, o crescimento do RedFlag 2000 tem sido constante e sempre apoiado pelo governo chinês.
Apresentações dinâmicas com o Impress
Foi a sessão que mais me cativou. Para tentar mostrar o porquê, imaginem uma televisão no aeroporto que indica as partidas dos aviões; agora tentem imaginar que por trás desse ecrã está a aplicação Impress a correr com apenas um diapositivo que refresca de 30 em 30 segundos carregando dados a partir de uma base de dados MySQL. Está tudo dito ... Fantástico.
OpenOffice e a integração com CMS
Foi também um dos temas que me levantou mais curiosidade (uma vez que já passei por este tipo de problemas). De facto, assisti a uma demonstração da integração do OpenOffice num Sistema de Gestão de conteúdos em que um documento de texto do OpenOffice.org (neste caso uma notícia) devidamente formatada (com cabeçalhos, corpo de texto, etc bem definidos) ao ser copiado para a pasta de um servidor web é automaticamente convertido em html e um utilizador ao consultar a página lê a notícia devidamente formatada num web browser. Também é possível executar o caminho inverso, ou seja, a partir de uma notícia html é possível exportá-la para OpenOffice.org sem perder as formatações do documento.
Outra sessão interessante (mas a qual não assisti por decorrer paralelamente com outras sessões) foi a integração do Alfresco no OpenOffice.org.
Desenvolvimento do OpenOffice.org
Por ser um tema bastante técnico não me vou alongar muito, mas assisti a algumas apresentações relativas ao desenvolvimento do OpenOffice.org e de como criar extensões para o mesmo. Uma das agradáveis surpresas é o melhoramento substancial na integração do módulo OpenOffice no Netbeans que torna muito mais fácil a criação de novos componentes para a suite OpenOffice.org.
ODF toolkit
Foi um dos assuntos mais falados e foi alvo de quatro sessões nesta conferência. O ODF toolkit encontra-se em fase de desenvolvimento, e é uma nova framework multi-plataforma que promete revolucionar toda a arquitectura do OpenOffice.org ao mesmo tempo que facilita o desenvolvimento quer do OpenOffice.org, quer de aplicações futuras. Um dos objectivos desta framework é separar por completo o core do OpenOffice e o seu interface gráfico. De facto, estes dois módulos estão demasiado presos um ao outro, o que torna o OpenOffice num sistema quase monolítico (por exemplo, se queremos instalar apenas o Calc teremos de instalar praticamente todas as bibliotecas). De notar que esta framework é independente da suite OpenOffice.org, ou seja, podemos por exemplo desenvolver um novo processador de texto de raíz usando esta framework, ou até mesmo, abrir, editar e gravar ficheiros a partir de uma consola.
Áreas de aposta do projecto português do OpenOffice.org para o futuro
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Actualização da página do projecto português do OpenOffice.org (http://pt.openoffice.org)
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Criação e manutenção do Wiki (versão portuguesa) – http://wiki.services.openoffice.org/wiki/P
t.openoffice.org -
Actualização do site do openthesaurus para a última versão da aplicação
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Criação do corrector gramatical para português utilizando a ferramenta LanguageTool